A responsabilidade de nos tornarmos quem gostaríamos de ser
Todo Carnaval tem seu fim.
E todo ano parece ter dois começos no Brasil. Um no dia 1º de janeiro e o outro agora, enquanto recolhemos as cinzas na quarta-feira.
Se o 1º de janeiro vem preenchido de promessas e pedidos (um para cada onda), esse segundo começo vem marcado de ressaca. Sai o álcool e a euforia e fica a pergunta: "E agora?".
Para muitos a resposta é simples: hora de retomar a rotina e de esperar pelo próximo Carnaval. Para outros, no entanto, no meio de tanta rua suja de confete, nada vem. Na melancolia que segue a euforia, se veem perdidos à procura de uma resposta. Querem saber onde estão e para onde irão.
A recomendação clichê –"Olhe para dentro e você se encontrará"– deixa essas pessoas ainda mais confusas. A promessa vazia do livro de auto-ajuda e do psicólogo de botequim é a de que quando olhamos para dentro despertamos de fato.
Eu, sinceramente, não acredito que seja assim que as coisas funcionam. Nunca vi ninguém acordar fechando os olhos.
As pessoas acordam quando os olhos se abrem e a visão volta a reconstruir o mundo. Inverter essa lógica básica, apesar de soar poético, é despropositado. Homens e mulheres não se sentem felizes a partir de abstrações, mas a partir de suas experiências diretas com tudo que os cerca.
É a risada de uma filha que faz do pai um homem mais feliz. É o abraço de um irmão ou o beijo de uma esposa ou de um marido. Ou abandonar (um pouco, pelo menos) o Facebook para fazer uma caminhada ao ar livre. Deixar de lado madrugadas perdidas mudando o canal da televisão para se levantar mais cedo e praticar uma atividade física.
É claro que é importante e interessante nos conhecermos. A questão é que o autoconhecimento, frequentemente, se dá no contato com o mundo.
Para saber que tipo de pai você é, por exemplo, o fundamental é perguntar quantas horas você passou com a sua filha na última semana. E quantas dessas horas foram passadas com o dedo arrastando as imagens da tela do celular para cima, enquanto a visão, distraída, mirava redes sociais. Ser um bom pai (ou um bom o que for) é reflexo de uma prática –e não do que você pode pensar sobre você.
Quando deixamos de olhar para dentro e olhamos para fora, conquistamos a liberdade de poder escolher quem seremos. Ao mesmo tempo, ganhamos a responsabilidade de nos tornarmos quem gostaríamos de ser.
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