Preferimos confirmar nossas expectativas em vez de compreender os fatos
Os alunos chegam na sala de aula da psicologia da USP e a professora lhes entrega um texto. O artigo, um pouco genérico, fala sobre Darwin e a importância da teoria de seleção natural. Os alunos são convidados a avaliar o texto como positivo ou negativo em diferentes aspectos. Por exemplo, o autor do texto é progressista ou reacionário? A favor das liberdades individuais ou a favor da perda de direitos?
A pesquisa, entretanto, não era sobre a capacidade de interpretação de textos dos universitários. O que os estudantes não sabiam é que um grupo deles estava avaliando o texto achando que ele tinha sido escrito por um autor, enquanto outro grupo avaliava o mesmo texto como se tivesse sido escrito por outra pessoa (um terceiro grupo, controle, recebeu o texto sem autoria explicitada). O objetivo da pesquisa, portanto, era descobrir como as concepções que os alunos tinham de cada um dos autores mudavam a sua opinião do texto .
Os resultados são impressionantes (ainda que, em retrospecto, um pouco previsíveis). As opiniões dos alunos variaram profundamente de acordo com o autor. Quando liam o texto assinado pelo psicólogo geralmente tido como progressista, os alunos achavam o texto progressista. Quando o mesmo texto parecia ser de autoria de um psicólogo considerado retrógrado, os alunos achavam que o texto era ditatorial.
No final das contas, não era o texto que estava sendo lido. Não, o que os alunos encontravam no texto é o que já achavam que sabiam. Cumpriam, ao avaliar o texto, apenas as premonições que já traziam antes de começar a ler.
Em momentos de caos político como o atual – crise de abastecimento no país, a polarização política crescente, etc – essa pesquisa se torna ainda mais importante. Porque ela nos lembra algo fundamental de nossa experiência.
Vamos ao encontro do mundo para confirmar nossas expectativas, e não para entendê-lo. Mesmo que estejamos tentando ser neutros em nossa avaliação, os nossos vieses pessoais modificam a informação que encontramos no mundo para que ela se conforme com as nossas opiniões.
O remédio para essa nossa tendência de sempre procurar por confirmação talvez seja garantir que conhecemos nossos vieses. Quando eu sei que sou contra a greve dos caminhoneiros, por exemplo, é muito mais útil que eu tente pensar em como, do ponto de vista deles, o movimento é razoável. Talvez, conhecendo os nossos vieses e procurando entender as visões contrárias possamos dar o primeiro passo para uma vida política mais saudável.
Talvez, assim, possamos finalmente começar um diálogo.
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