Ensinando nossos filhos a serem felizes sofrendo
"Não foi nada, não foi nada; não precisa chorar, vai passar". Depois de um tombo bobo, essa frase pode ser uma das coisas mais carinhosas que um pai pode falar para seu filho. Depois de um tombo bobo, é uma forma de dizer para a criança levantar e tentar de novo.
Mas às vezes o tombo machuca. A queda é alta e a dor não passa tão rapidamente. Nessa segunda queda, muitos pais ajustam a sua conduta. Procuram por gelo e curativos. "Eu sei que tá doendo, mas o papai (ou a mamãe) vai cuidar e a dor vai passar, ok?"
Esse ajuste fino reflete uma filosofia importante. A ideia de que querer a felicidade de nossos filhos não significa que não aceitamos suas dores. E, mais importante ainda, que as pessoas podem ser felizes mesmo com sofrimentos em suas vidas.
Em última instância, o "vai passar" insistente –recusar a ideia de que crianças sofrem — nega a realidade do mundo. E, ao negar essa realidade, tiram da criança uma oportunidade incrível: a oportunidade de aprender a lidar com os seus sentimentos e com as suas dores.
O que a psicologia tem demonstrado é que para saber lidar bem com os sentimentos é preciso saber reconhecê-los. Para isso, é fundamental que em algum momento um adulto nos ensine a validar esse sentimento. É preciso que alguém diga que isso é dor, e que é perfeitamente natural sentir dor. E que, se a gente deixar, a dor eventualmente vai embora.
E que o mesmo vale para a tristeza, para a raiva, para o medo e até para a felicidade. Não há nada de errado em sentir, independentemente de qual o sentimento. Precisamos romper com o mito da felicidade perene. A vida, por mais protegida que ela seja, contém dor, decepções e tristezas.
Queremos que nossos filhos sejam felizes, mas, o mundo sendo como ele é, não podemos protegê-los das dores que permeiam a vida. Em algum momento, todo mundo vai ouvir que não é amado de volta. E sentir a tristeza dessa decepção. Nesse sentido, felicidade (como objetivo) não pode ser um estado perene de alegria. Ao contrário, deve ser seguir vivendo uma boa vida, abraçando a experiência humana como um todo –as dores e as delícias.
Ensinar um filho a chorar quando sente dor talvez seja isso. Talvez seja ensinar, desde pequeno, que é possível ser feliz sofrendo.
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