Transtorno do estresse pós-traumático: a violência que não some. Como agir?
Um time de futebol formado por adolescentes ficou preso por 17 dias em uma caverna na Tailândia. Eu, como muitos, passei as duas últimas semanas ligado na notícia, acompanhando tudo, enquanto mergulhadores corajosos descobriam maneiras de resgatar esses meninos e seu técnico. Hoje, escrevo este texto e já estão todos a salvo. Mas será que o terror desse grupo acabou mesmo?
Algumas pessoas que vivem uma tragédia como essa ou que são vítimas de abuso ou, ainda, que sofrem qualquer outra violência ou acidente grave desenvolvem o chamado transtorno do estresse pós-traumático (TEPT). Para elas, é como se o evento nunca ficasse definitivamente no passado. Como se o tempo tivesse sido congelado e o trauma voltasse à superfície a cada pequeno gatilho. Crises de pânico e flashbacks reatualizam o trauma criando um drama que muitas vezes parece infinito.
Responder a um evento anormal de forma extrema é o esperado. Precisamos apenas tomar cuidado para não tornar patológico o que é normal, ou seja, alguém ter uma reação extrema dentro desse contexto. Por isso, o ideal é esperar um mês antes de se diagnosticar que um indivíduo está com TEPT.
Além de não transformar em patológica a reação esperada, é importante evitar um excesso de psicologia. O que diversas pesquisas mostram é que, logo após a vivência do trauma, ficar conversando sobre o acontecido piora o prognóstico do paciente. Ou seja, aquelas pessoas que passaram por uma entrevista em que precisaram detalhar o que lhes aconteceu tiveram maior risco de desenvolver TEPT do que aquelas que ficaram em seu canto e tentaram esquecer.
Curiosamente, as pesquisas também apontam que pessoas com um estilo cognitivo evitativo —que tentam não pensar muito no assunto— igualmente têm menor risco de desenvolver o transtorno.
Por fim, é importante não medicar demais. De acordo com diversos estudos, o uso de calmantes, especialmente benzodiazepínicos, atrapalham o processo natural de formação das memórias e isso eleva a ameaça de a pessoa continuar viver como se o trauma ainda estivesse presente. Isto é, o uso de calmantes está associado a uma piora do quadro.
Assim, para aqueles que ficaram presos em uma caverna – e para todos nós, vítimas de um país com tanta violência – , a dica é ir para a sua casa. Por pelo menos um mês, respostas extremas e pesadelos são esperados. Mas o silêncio e o esforço de lidar com tudo isso sem entrar em detalhes são, enquanto não encontramos as medicações para tratar da consolidação da memória, as melhores estratégias. O melhor que a psicologia, em momentos assim, tem a oferecer é simplesmente não fazer mal.
Do mesmo modo, no papel espectadores de uma tragédia, aceitar o silêncio das vitimas é o melhor que podemos fazer. Desligar a tevê reverberando o ocorrido ou fatos parecidos e tirar os olhos das notícias talvez seja a nossa maneira de ajudar, enquanto torcemos para que a tragédia seja esquecida.
Caso esse auxílio não seja o suficiente e se, passado um mês, tudo pareça estagnado, é importante saber que o TEPT tem tratamento. Mas isso, no entanto, é tema para outro post…
PARA SABER MAIS:
Zohar, J., Juven-Wetzler, A., Sonnino, R., Cwikel-Hamzany, S., Balaban, E., & Cohen, H. (2011). New insights into secondary prevention in post-traumatic stress disorder. Dialogues in clinical neuroscience, 13(3), 301. [no link abaixo]
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.