Assim como junk-food, andamos consumindo valores de felicidade vazios
Ninguém espera ficar saudável almoçando McDonald's todos os dias. Nada contra um sanduíche aqui ou ali, mas se deixarmos que essa seja a base de nossa alimentação, teremos problemas sérios de saúde. Em inglês, o termo junk food agrupa todos esses alimentos que, mesmo podendo ser gostosos, no final das contas agregam pouco ou nenhum valor nutritivo para a nossa dieta.
O psicólogo americano Tim Kasser acredita que estamos fazendo algo próximo a isso com os nossos valores e com a ética que guia o nosso dia a dia. Em uma de suas pesquisas, Kasser mostrou o seguinte: os adolescentes que mais foram atrás de fama e status (isto é, que eram guiados por valores chamados extrínsecos) eram os mais infelizes. Ao contrário, aqueles que aprenderam a ir atrás de valores intrínsecos –aquelas atividades que são importantes por elas mesmas, e não pelo status que agregam — eram os mais satisfeitos com a sua vida.
Talvez isso seja óbvio, algo que já sabemos faz tempo: há uma diferença gigante entre ser apaixonado por tocar guitarra e tocar guitarra (apenas) pelos aplausos. Sabemos quem vai se tornar um bom guitarrista e vai se ver feliz por seguir uma carreira na música. Com certeza será aquele que toca pela fantástica sensação de produzir sons agradáveis.
No entanto, o ponto talvez seja que cada vez mais somos inundados por sugestões capazes de nos empurrar para valores extrínsecos. O desodorante não tem mais quase nada a ver com cheiro. Não! Ele é a marca que vai deixar as mulheres atraídas, por exemplo. O carro não serve para nos levar confortavelmente de um lugar para outro: passar a ser símbolo do homem bem sucedido.
Assim, surrados desde pequenos com essas promessas, vamos aos poucos construindo uma vida que é preenchida desses junk-valores. Miramos o próximo bem material que vai, finalmente, nos fazer felizes. E esse próximo nunca chega. A satisfação de ter um celular novo se desmancha em menos de uma semana de uso.
Não é a toa que ficamos ansiosos e deprimidos. São muitas promessas impossíveis de felicidade. E isso porque são promessas de felicidade sem grandes valores pessoais que lhes deem sustância. Daí que uma série de propostas terapêuticas recentes apostam em estratégias para permitir que o paciente leve uma vida mais valorosa.
É o caso da terapia de aceitação e compromisso (ACT), por exemplo. Segundo essa terapia, é preciso que a gente saia de nossas cabeças para mergulhar em nossas vidas. Para isso, são precisos valores substanciais, que guiem nossos passos nas montanhas e vales de sentimentos que compõe qualquer existência.
A ideia é ótima. Mas ainda me pergunto: como achar valores intrínsecos em um mundo que fica a todo momento tentando me convencer de que o que eu preciso é de um objeto novo para ser feliz? Será que não está na hora de tirarmos a responsabilidade dos indivíduos e tentarmos mudar o mundo?
Com certeza –mas até lá eu vou tentando mudar minha vida…
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