Já sentiu que não agradou quem você acabou de conhecer? Não é só com você
Nessa semana, conheci o novo namorado da amiga da minha esposa, o Pedro. Ele é um cara simpático, mas eu nunca o tinha visto antes. Isso sempre deixa meu umbigo gelado. Fico pensando que conversar com um desconhecido deveria ser fácil. Pô, minha profissão me treinou para ser uma espécie de conversador profissional. Eu sei o que geralmente funciona –fazer perguntas, mostrar interesse, validar etc. Mas o frio no estômago não me larga. O medo de que ele, que eu mal estava conhecendo, não fosse gostar de mim permeava a maneira como eu me sentia durante a conversa.
Nessas horas, minha preocupação está focada em mim: não quero desagradar e, sim, quero ser amado. Saí do jantar com a sensação de que ele não tinha ido muito com a minha cara. De fato, acabei saindo desse jantar como de tantos outros: decepcionado comigo mesmo.
Talvez você, leitor, já tenha passado por isso. Por esse momento em que conhecemos alguém, temos uma conversa agradável e, mesmo assim, ficamos com a certeza de que a outra pessoa não gostou muito da gente.
A boa notícia é que uma série de pesquisas –feitas com colegas de dormitório em faculdade, desconhecidos em um programa de doutorado ou estranhos reunidos em um laboratório — mostrou que provavelmente estamos enganados. As pessoas costumam nos apreciar mais do que avaliamos.
Esse fenômeno foi apelidado de "fenda do gostar" (liking gap) e parece ser bastante consistente. Isto é, em muitos contextos, com pessoas diferentes e em idades distintas, o mesmo parece acontecer. Avaliamos mal o impacto que causamos nos outros.
Particularmente, temos a tendência de avaliar experiências positivas, mas não extraordinárias, como negativas. Sentimos o peso estranho de que precisamos ser aceitos. E vamos nos perdendo na confusão de tentar ler a mente dos outros.
Mas há liberdade em saber disso. Em saber que, no geral, as pessoas gostam umas das outras. Talvez, conhecer um Pedro da vida seja muito mais fácil dessa forma. A ideia é tão simples: ele também quer ser amado. Ele provavelmente prefere gostar de mim, se possível.
Mas, infelizmente, a complexidade das relações sociais faz com que seja difícil para a maior parte de nós ter essa intuição. Voltamos a cair, uma vez depois de outra, nessa fenda do gostar. Nos jogamos para baixo e deixamos de conferir com o mundo se nossos auto-julgamentos fazem sentido. Não há solução perfeita para isso. Talvez, apenas, o bom e velho olhar para frente. Entrar o contato com nossos pares e nos perguntarmos com confiança: por que ele não gostaria de mim? E mais: qual o impacto real de ter um desconhecido me desaprovando?
Se percebermos que dá para viver com o pior cenário possível, ganhamos a leveza de podermos ser nós mesmos. E assim, quem sabe, simplesmente aproveitar a conversa.
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