No próximo ano, um novo tipo de meta: decepcione alguém
Um amigo estava de férias no paraíso e decidiu que queria ver os Lençóis Maranhenses de cima. A vista devia ser incrível e o passeio em um dos pequenos aviões que sobrevoam a região parecia seguro. O medo que ele tinha de voar não era tanto a ponto de o impedir de aproveitar a oportunidade.
O problema foi que, quando chegou no avião, no lugar de um piloto experiente, ele encontrou duas pessoas na cabine. Uma delas um pouco ansiosa. O outro, com voz tranquila, disse que o "rapaz estava cumprindo com horas de voo". Ou seja, estava terminando seu treino para ser piloto. Mas, segundo ele, os tripulantes podiam ficar em paz porque o sobrevoo seria sem intercorrências. Meu amigo congelou, apertou a mão de sua namorada com força e tentou se concentrar na vista.
Em vão. Em sua barriga, um papel celofane não parava de se amassar, em um burburinho frio. O que era para ser um momento inesquecível se transformou em um cansativo debate interno: "Eu deveria falar alguma coisa. Deveria exigir um profissional experiente para pilotar o avião, eu tenho esse direito."
Ele voltou em segurança, mas decepcionado de ter perdido o prazer do passeio. Enquanto esse amigo me contava a história e dávamos risadas, chegamos à conclusão de que, no final, quando ele se viu precisando escolher entre talvez se indispor com um desconhecido e lutar pela sua sobrevivência ou se calar, acabou escolhendo o caminho sem atrito social.
Seres humanos fazem isso com tal frequência que chega a ser hilário. Desistimos de nossos sonhos e de nossas posições porque ficamos amarrados ao medo da opinião que os outros possam criar de nós. Passamos tanto tempo procurando por amor e aprovação que acabamos abandonando coisas muito mais importantes. Nossa própria segurança até.
Ano passado, nessa mesma época, eu escrevi sobre uma série de dicas para seguirmos com nossas metas de fim de ano. Hoje, talvez um pouco mais esperto, venho apenas com uma pergunta: quem você está disposto a decepcionar para ir atrás de seus objetivos?
Talvez a pergunta certa não seja o que queremos do ano que se aproxima, mas o que estamos dispostos a sacrificar para tornar nossa vida mais maravilhosa. O quanto estamos apegados a tentar garantir a felicidade e o amor dos outros? O que perdemos enquanto percorremos essa trilha atrás de um sonho vazio, enquanto esperamos conseguir tudo o que queremos sem precisar sacrificar nada?
É preciso abandonar a ideia de que é possível conquistar tudo o que almejamos recebendo apenas aplausos.
Não importa quão simples seja o nosso objetivo. Para emagrecer, é preciso (às vezes) decepcionar avós. Para passar mais tempo com a família, é preciso decepcionar chefes —e para impressionar chefes, decepcionar a família.
Na vida real, não existem mega-senas, apenas ganhos com perdas. Por isso, eu pergunto: ano que vem, quem você vai decepcionar?
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