Sua intuição não está sempre certa, diferente do que você imagina
Se eu te pergunto quanto é 2 + 2, a resposta que vem na sua cabeça provavelmente é imediata. O seu conhecimento sobre essa conta é tão profundo que você sequer se dá conta de a ter resolvido. Simplesmente chegamos no resultado. Se eu te peço para me dizer quanto é 37 vezes 14, por outro lado, a coisa fica muito diferente. Se você for capaz de responder essa pergunta, será preciso esforço. Talvez você nem tenha notado, mas você ficou um pouco cego enquanto fazia os cálculos mentais. Se estivesse na frente de um espelho, poderia ter visto a sua pupila dilatando com o esforço.
Esse exercício serve para lembrar que temos duas maneiras de encontrar respostas. A primeira, o chamado sistema 1, é rápida, automática e segura. A segunda, o sistema 2, é um processo lento e deliberativo. O sistema 1 é essencialmente inconsciente – não nos damos conta do seu trabalho. Estamos, por outro lado, penosamente conscientes dos esforços que o sistema 2 nos exige.
E a verdade é que gostamos de tomar decisões com o sistema 1. Ele é econômico e rápido e eficiente. E ele está, constantemente, nos dando péssimo conselhos. Pense no seguinte problema: uma caneta e um papel custam, somados, R$1,10. A caneta custa R$1,00 a mais do que o papel. Quanto custa cada um deles?
Se você é como a maioria das pessoas, uma resposta veio rapidamente à sua mente: a caneta custa R$1,00 e o papel dez centavos. Essa resposta está errada. Nesse cenário, a caneta custa R$0,90 a mais do que o papel. A resposta correta é bem menos intuitiva –a caneta custa R$1,05 e o papel R$0,05.
No entanto, ainda que seja pouco confiável e que nos leve a errar de maneira bastante previsível, não podemos simplesmente descartar nossa intuição. Para uma parte importante de nossas atividades, a capacidade de tomar decisões rápidas e precisas é fundamental. Imagine um cirurgião que não reage com a imediaticidade do sistema 1 a uma pequena mudança de seu paciente. Um bombeiro que não escuta o seu instinto quando vai retirar uma pessoa de um carro em chamas. Uma enfermeira que não percebe mudanças quase invisíveis no comportamento de seus pacientes.
A questão, portanto, não é como podemos deixar de usar nossa intuição, mas como é possível melhorá-la.
Para isso, precisamos de ambientes muito generosos. Ambientes em que as consequências de nossas ações são palpáveis e imediatas. Um jogador de basquete acertando a cesta é um bom exemplo. Com tempo de treino a sua intuição da força e do ângulo necessário para atirar a bola se torna muito mais precisa do que qualquer racionalização. Isso porque a cada vez que ele joga a consequência é mais clara (a bola entrou ou não na cesta) quanto mais ele tem acesso imediato a essa consequência de seu comportamento.
Assim, a dica importante é se perguntar, enquanto vemos nossa intuição tomando decisões por nós, como nasceu a sua intuição. Ela veio de um ambiente generoso? Se sim, siga com ela. Não foi? Está na hora de duvidar –de tentar convocar o sistema 2 para repensar nossa intuição.
Por exemplo, é fundamental começar a duvidar de nossas capacidades de intuir o melhor investimento de nosso dinheiro –mesmo se somos especialistas na área. De nossa capacidade de escolher o melhor candidato para um emprego na entrevista de uma hora que fazemos com ele –mesmo se fazemos isso todos os dias. E mais tantos outros pequenos exemplos do dia-a-dia.
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