Pessoas tóxicas existem.
Eu sei disso, você sabe disso, até aquele seu tio meio sem noção sabe disso. Pessoas desse tipo nos fazem sofrer. Evitamos lugares que, se não fosse por elas, seriam incríveis. Estão espalhadas por aí, atrapalhando a sua felicidade e a minha.
Só que gente tóxica da vida real não é como vilão de filme. Não cria tubarões para engolir um James Bond qualquer. Também não está precisamente descrita nos livros de psicologia. Essas pessoas existem, todo mundo sabe, mas é difícil definir quem são elas.
A primeira coisa que faz com que seja difícil definir essas pessoas é que, frequentemente, pasme, elas não estão elaborando um plano maquiavélico para lhe prejudicar. Elas nem sequer sabem que são tóxicas. Passam anos destilando rancor, vendo um por um ao seu redor se afastar, mas não suspeitam de que elas talvez sejam o problema. Acreditam que o mundo é injusto e que seus alvos merecem sofrer.
Um bom exemplo é o do marido abusivo que vive lembrando a sua esposa o quanto ela engordou. Ele diz que quer ajudar, mas a agressividade com que fala e a humilhação enroscada nas entrelinhas contam outra história. No seu íntimo, ele não acredita que seja o vilão, e, sim, o sujeito que está sendo prejudicado pela forma física da mulher (esse cara, acredite, está errado de pensar assim).
Outro exemplo típico é o daquele "amigo" que, ao mesmo tempo em que lhe dá parabéns pela sua promoção, pergunta, com um sorriso cínico quase aparecendo no rosto, como você vai fazer para cuidar do seu filho com o aumento da carga de trabalho. Ele não está torcendo por você –ele está achando injusto que você tenha recebido uma promoção enquanto ele odeia o próprio trabalho. Aos olhos desses amigos, nós não merecemos as coisas boas que nos acontecem.
A pessoa tóxica é aquela que consideramos por anos próxima a nós, mas que nos faz sair, depois de cada conversa, um pouco pesados, sentindo que somos inadequados. Reparem que a pessoa tóxica raramente é o seu inimigo declarado, mas alguém por perto que constantemente lhe joga para baixo.
Em outros momentos, pessoas tóxicas mascaram seu veneno em boatos ou em conselhos imbuídos de distorções e mentiras. É o sujeito que vive dando um conselho que, quando olhamos com calma, não serve para proteger ninguém e, sim, para prejudicar um terceiro.
A questão é: como será que separamos quem é tóxico do resto das pessoas que estão, sem querer, fazendo algum mal para os outros? Afinal, qualquer um de nós –eu, você ou o Gandhi — em algum momento machucou alguém. É pouco provável que exista uma chefe que nunca foi indelicada com um funcionário. Um marido e uma esposa que nunca disseram coisas desagradáveis um para o outro no meio de uma briga.
Ter machucado alguém sem querer é quase que uma consequência natural da nossa vida em sociedade. Entretanto, isso (por si só) não faz de nós "tóxicos". Faltam alguns ingredientes.
Falta a frequência, a repetição dos atos danosos. Falta a raiva. Falta a violência, às vezes passivo-agressiva. Falta a convicção de que estamos certos. Falta prazer quando vemos alguém se ferrando. Falta o comportamento cujo combustível é o dano ao próximo. Falta inveja. Faltam as mentiras sucessivas. Falta a capacidade de reconhecer o erro e de pedir desculpa.
Se você está na dúvida se uma pessoa tóxica faz parte da sua vida –como amigo(a), namorado (a), colega de trabalho, familiar — repare em como se sente quando ela está por perto. O ambiente fica pesado? Você se sente desconfortável, tenso, pisando em ovos para evitar alguma briga ou desentendimento? Outros, além de você, relatam se sentir da mesma forma quando estão por perto dessa pessoa? Você sai de parte importante da sua conversa se sentido escutado, mas a pior pessoa do mundo ao mesmo tempo?
Mais importante ainda, como fica o clima quando essa pessoa vai embora? Às vezes a toxicidade de alguém só se torna clara quando ele está ausente. Com a repentina leveza no ar que a sua ausência traz.
Se você respondeu sim para essas perguntas, provavelmente você está convivendo com uma pessoa tóxica. Em geral, ela pula de emprego em emprego, de grupo de amigos em grupos de amigos. É aquela que, quando não junta gente em torno de si para destruir alguma coisa, fica sozinha.
E, dessa pessoa, meu conselho profissional é bem simples: fuja!