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O poder do perdão e a capacidade de deixar o passado para trás

Dan Josua

20/09/2018 04h00

Crédito: iStock 

 

Nessa semana, judeus de todo o mundo pararam para celebrar o Dia do Perdão, o Yom Kippur. Esse dia, o mais importante para a religião judaica, é marcado por jejuns e pela obrigação de pedir perdão pelos erros do ano anterior. E, em alguma medida, refletir sobre as ofensas que sofremos e também deixar que elas fiquem no passado.

O perdão aparece como característica fundamental em todas as grandes religiões do mundo. Os cristãos, por exemplo, são convidados a seguir os exemplos de Jesus, cujo último gesto, segundo o apóstolo Luca, foi pedir perdão pelos homens: "Perdoai-vos, eles não sabem o que fazem". Ensinamentos semelhantes podem ser encontrados no Islamismo e em muitas das religiões orientais. Para o budismo, para colocar mais uma ilustração, o perdão é parte essencial do caminho para a iluminação, pois ele nos protege do rancor e da raiva.

Aos poucos, a ciência moderna começa a investigar o fenômeno, chegando a conclusões muito semelhantes daquelas que essas religiões milenares sugerem. Alguns estudos mostraram que a capacidade e a disposição para perdoar não apenas melhoram a nossa vida emocional, como também parecem ter um impacto positivo na nossa saúde física.

Alguns fatores parecem mediar aos efeitos da capacidade de saber perdoar. Elementos com uma tendência em atenuar culpabilização crônica, uma diminuição dos estados de hiperexcitação fisiológica e, para completar, aumento da probabilidade de nos mantermos um ambiente social que dê suporte.

Eu não sou uma pessoa religiosa, mas os efeitos positivos de treinar o perdão me parecem evidentes. Perdoar é, de certa maneira, um antídoto para a raiva. Um remédio para a emoção que faz com que as coisas ruins do mundo sobressaltem aos nossos olhos. Que pinta o mundo de vermelho e violência.

Perdoar não é, veja bem, deixar impune, ou ser condescendente com a maldade alheia. Pelo contrário, é se recusar a deixar que a crueldade de outra pessoa contamine a nossa vida.

Perdoar, em última instância, é a capacidade de deixar o passado para trás. De transformá-lo em memória.

para saber mais: Lawler, K. A., Younger, J. W., Piferi, R. L., Jobe, R. L., Edmondson, K. A., & Jones, W. H. (2005). The unique effects of forgiveness on health: An exploration of pathways. Journal of behavioral medicine, 28(2), 157-167.

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Sobre o autor

Dan Josua é psicólogo, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Fez especialização em Terapia Comportamental e Cognitiva pela USP (Universidade de São Paulo) e tem formação em Terapia Comportamental Dialética pelo Behavioral Tech / The Linehan Institute, nos Estados Unidos. Atua como pesquisador e professor no Paradigma - Centro de Ciências e Tecnologia do Comportamento e dá cursos pelo Brasil afora ajudando a difundir a DBT pelo país.

Sobre o blog

É muita loucura por aí. Trânsito, mudanças climáticas, tensões em relacionamentos, violência urbana, maratona de séries intermináveis, spoilers em todos os cantos, obrigação de parecer feliz nas mídias sociais, emoções à flor da pele. O blog foi criado para ser um refúgio de tudo isso. Um momento de calma para você ver como a ciência do comportamento humano pode lhe ajudar a navegar no meio de tanta bagunça.

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