Se você é como eu, deve ficar com um misto de tédio e empolgação no supermercado e no shopping quando o final de novembro se aproxima. Nas prateleiras, por um lado, chocotones e panetones. Por outro, as canções natalinas de sempre tocando sem parar. Toda vez que vou para uma dessas lojas, eu me pergunto: por que repetir essas músicas tantas vezes?
O curioso é que, segundo um estudo realizado há quase 17 anos, liderado por Eric Spagenberg, da Paul Merage School of Business da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, a música de Natal — especialmente se associada ao que seriam os cheiros de Natal — é capaz de aumentar a avaliação positiva das lojas. Sim, ficamos mais generosos em nossas críticas a um estabelecimento comercial se Jingle Bells estiver tocando ao fundo.
Além disso, como um trabalho de 2008 assinado por outros cientistas mostrou, ficamos mais satisfeitos quando usamos o nosso dinheiro comprando presentes para os outros do que quando gastamos com nós mesmos ou quando pagamos boletos atrasados. Sendo assim, a tradição natalina de dar presentes — mais do que a de receber — parece proporcionar um impulso considerável de felicidade em quem celebra essa festividade.
É interessante pensar que, no final das contas, nossa felicidade parece estar mais em nossa natureza altruísta do que na egoísta. Mas talvez ainda mais notável seja o fato de que pessoas acostumadas a festejar o Natal, ao terem o seu cérebro examinado, apresentam respostas aumentadas em regiões ligadas à empatia e à espiritualidade quando enxergam imagens relacionadas a essa data. Ou, pelo menos, foi isso que o neurocientista Anders Hougaard e seu time da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, demostraram.
Até mesmo a saúde mental da população parece melhorar no Natal. Segundo uma revisão publicada em 2011, o número de autolesões e tentativas de suicídios diminuem nos dias que precedem a comemoração da data do nascimento de Cristo. O efeito, no entanto, é curto e, infelizmente, seguido por um aumento nessas estatísticas nas semanas que seguem o feriado. Talvez porque a promessa de amor e de compaixão não se cumpra depois da festa. Ou, talvez, após reencontrar familiares e amigos na ceia, a solidão dos dias posteriores fique ainda mais esmagadora.
É difícil saber ao certo a razão desse aumento de tentativas de se matar quando o Natal passa, mas outros dados tristes são mais facilmente entendidos, como é o caso de aumento de fatalidades relacionadas ao consumo abusivo de álcool. Ou mesmo ao aumento de peso provocado pelas festas de final de ano. Entre peru, vinho, chester, cerveja e cidra fica razoavelmente fácil compreender este último fenômeno.
Em resumo, como qualquer momento culturalmente marcante, o Natal mexe com nossas cabeças. Algumas mudanças ocorrem à nossa revelia – como a música e o cheiro aumentando nossa propensão a comprar. Outras, porém, podemos escolher. Podemos escolher nos aproximar de quem amamos. Podemos escolher comemorar amor e nascimentos, na forma que for. Feliz Natal! (ou Channuká, para meus amigos judeus).