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Blog do Dan Josua

Até a Gisele Bündchen já pensou em se matar?!

Dan Josua

27/09/2018 04h00

Crédito: Instagram / @gisele

"Sério que até a Gisele? Mas a vida dela é perfeita. Ela é rica, uma das mulheres mais bonitas do mundo, bem sucedida. É muito mimimi dessa geração que nunca está satisfeita."

Aposto que essas palavras, pouco generosas, provavelmente passaram pela mente de muitos leitores do UOL quando descobriram que a supermodelo brasileira Gisele Bündchen admitiu já ter pensado em suicídio. Esse choque, quase uma indignação, seria menor se todos conhecessem um pouco mais os números sobre suicídio e, principalmente, sobre as coisas que realmente tornam as pessoa felizes.

Já faz um bom tempo, por exemplo, que um estudo (Chiles & Strosahl 2005,) feito em uma amostra representativa de uma comunidade nos Estados Unidos, notou que, ao longo da vida, quase metade das pessoas já pensou em se matar pelo menos uma vez. Vinte por cento do total chegaram até mesmo a fazer planos para isso. Leia de novo porque é difícil mesmo de acreditar: metade das pessoas já passaram por momentos de tanto sofrimento que cogitaram terminar com a própria vida.

Deixe esse número assentar. Olhe em volta, onde você estiver, e conte as pessoas à sua volta, de duas em duas – um, dois; um, dois… A cada vez que você chegar no "dois", entenda: pode ser  que um desses indivíduos já pensou que morrer seria uma melhor solução para os seus conflitos do que seguir batalhando. Olhe inclusive para os seus filhos ou os seus sobrinhos –e eu sei que isso pode ser dolorido — e faça a mesma coisa. Conte um, dois… A cada dois, pense: essa criança vai crescer e, ao crescer, vai chegar a um ponto no qual tirar a própria vida poderá soar como uma solução.

É difícil imaginar, mas esses são os números. Ainda hoje são esses. Por trás de metade dos sorrisos televisionados, porque artistas e modelos (ou, vá lá, supermodelos)  são feitos da mesma substância  que os outros mortais, há ou houve um pensamento de tentar se matar.

É óbvio que, dessas pessoas, apenas um número muito pequeno levará o seu plano de morte adiante. Ainda bem que é assim. Com certeza não é preciso levar cada pensamento que temos com seriedade excessiva.

Ao mesmo tempo, vale refletir: o que estamos fazendo, enquanto comunidade, para que haja tanta gente sofrendo calada? O que estamos fazendo para que até mesmo quem "vence" em tudo nessa corrida maluca de nossas vidas se veja insatisfeito a esse ponto? E como podemos fazer para que esses pensamentos sejam apenas  apenas "pensamentos"?

Talvez o que está ao nosso alcance é ficar simplesmente escutando e repetindo: estamos aqui por você. Seja você rico ou pobre, bonito ou feio. E seja lá o que você precisa dizer, estamos dispostos a escutar. Ninguém merece sofrer sozinho, Gisele.

Sobre o autor

Dan Josua é psicólogo, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Fez especialização em Terapia Comportamental e Cognitiva pela USP (Universidade de São Paulo) e tem formação em Terapia Comportamental Dialética pelo Behavioral Tech / The Linehan Institute, nos Estados Unidos. Atua como pesquisador e professor no Paradigma - Centro de Ciências e Tecnologia do Comportamento e dá cursos pelo Brasil afora ajudando a difundir a DBT pelo país.

Sobre o blog

É muita loucura por aí. Trânsito, mudanças climáticas, tensões em relacionamentos, violência urbana, maratona de séries intermináveis, spoilers em todos os cantos, obrigação de parecer feliz nas mídias sociais, emoções à flor da pele. O blog foi criado para ser um refúgio de tudo isso. Um momento de calma para você ver como a ciência do comportamento humano pode lhe ajudar a navegar no meio de tanta bagunça.

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