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Blog do Dan Josua

Não damos atenção à seguinte realidade: somos absolutamente únicos

Dan Josua

13/06/2019 04h00

Crédito: iStock

Laleh e Ladan Bijani nasceram com as cabeças coladas. Irmãs siamesas, gêmeas idênticas, não apenas tinham o mesmo código genético –elas viam o mundo pelo mesmo ângulo. Seus crânios estavam presos na lateral, de forma que as duas estavam sempre viradas para o mesmo lado.

Para uma enxergar a outra era necessário um espelho. Levaram, por causa dessa amarração, vidas muito parecidas. Os mesmos pais e mesma escola. Também foram testemunhas das mesmas experiências. E, ainda assim, eram pessoas únicas, completamente diferentes uma da outra.

Às vezes passamos batido por esse pequeno milagre: a mesma genética, a mesma educação familiar, pontos de vista muito parecidos e… pessoas completamente diferentes!

Hoje, mais de 7 bilhões de indivíduos estão dividindo esse planeta. Alguns talvez tenham genes muito parecidos com os seus ou com os meus. E, ainda assim, são 7 bilhões de pessoas absolutamente únicas. Frequentemente perdemos a dimensão do quanto isso é impressionante –e, acredite, difícil de entender do ponto de vista científico.

A maior parte das teorias psicológicas se focam em modelos explicativos capazes de dar conta de justificar as nossas semelhanças, os processos que são comuns a todos os seres humanos. Para os psicanalistas, por exemplo, a investigação é em torno do inconsciente e do Complexo de Édipo. Já os psicólogos comportamentais se apoiam na ideia de que as consequências dos nossos comportamentos aumentam (ou diminuem) a probabilidade de eles acontecerem novamente. Os psicólogos cognitivos fazem esquemas ou de mapas cognitivos. E assim por diante.

No meio de tanta busca por leis gerais, é comum esquecermos de analisar pra valer o que torna cada um de nós tão único. Ora, a resposta padrão é invariavelmente pouco profunda: somos frutos da interação de nossos genes com o ambiente em que crescemos. Ao meu ver, aliás, há uma ênfase exagerada ao papel dos pais quando se fala desse ambiente.

A pergunta mais importante, no entanto, seria: quais são as microdiferenças no contato com o mundo que fazem com que, ainda que alguém tenha o DNA idêntico ao de um irmão gêmeo, existam dois indivíduos absolutamente únicos?

Não pretendo, aqui, aprofundar as maneiras pelas quais a psicologia tem enfrentado essa questão. Para quem tiver interesse nessa discussão, vale a leitura do livro "Não há dois iguais" de Judith Rich Harris.  O que gostaria com este texto é marcar o quão magnífico é isso.

Preste atenção: em toda a História, nunca apareceu outra pessoa como você. E nunca alguém como você voltará a aparecer. Nem sempre conseguimos nos sentir dessa forma, mas, sim, somos por definição absurdamente especiais. E o mesmo vale para cada pessoa a nossa volta.

Cada uma das pessoas que cruzaram o seu caminho representam um universo em si mesma. Absolutamente único. Essa singularidade significa que, em alguma instância, seremos sempre incompreendidos até mesmo por aqueles que nos amam. Ao mesmo tempo, isso significa que nunca nos esgotaremos em temas, nem terão fim as surpresas. Afinal, temos pelo menos 7 bilhões de realidades para conhecer.

Sobre o autor

Dan Josua é psicólogo, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Fez especialização em Terapia Comportamental e Cognitiva pela USP (Universidade de São Paulo) e tem formação em Terapia Comportamental Dialética pelo Behavioral Tech / The Linehan Institute, nos Estados Unidos. Atua como pesquisador e professor no Paradigma - Centro de Ciências e Tecnologia do Comportamento e dá cursos pelo Brasil afora ajudando a difundir a DBT pelo país.

Sobre o blog

É muita loucura por aí. Trânsito, mudanças climáticas, tensões em relacionamentos, violência urbana, maratona de séries intermináveis, spoilers em todos os cantos, obrigação de parecer feliz nas mídias sociais, emoções à flor da pele. O blog foi criado para ser um refúgio de tudo isso. Um momento de calma para você ver como a ciência do comportamento humano pode lhe ajudar a navegar no meio de tanta bagunça.

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