Quando um adolescente tira a própria vida: o que fazer da tragédia
Um adolescente de um colégio de elite de São Paulo morreu por suicídio no mês passado. Pais amorosos, colégio particular e uma vida promissora pela frente. O fato de ele ser o segundo adolescente a tirar a própria vida no colégio esse ano assusta. Assusta mais ainda saber que hoje o suicídio é a segunda causa de morte mais comum entre jovens de 15 a 29 anos no mundo inteiro.
No meio desse tipo de tragédia, é natural que comecemos a procurar por culpados. Queremos encontrar algum elemento que explique o comportamento desses adolescentes. Porque se encontrarmos esse Santo Graal vamos conseguir dormir mais tranquilos novamente. Nossos filhos, sobrinhos e amigos estarão seguros.
É sempre assim: ficamos atrás do ingrediente mágico que faz de um bolo, um bolo. Mas a realidade é que ele só existe pela combinação de vários ingredientes. Vai deixar de ser bolo se tiramos o fermento, a farinha ou os ovos. Qualquer item a menos basta para ele se tornar outra coisa. Com comportamentos complexos e assustadores como o suicídio, vale o mesmo. A única diferença é que, neste caso, a lista de ingredientes é quase infinita. Começa antes da pessoa nascer, em sua história genética e em seu ambiente familiar. Segue aumentando conforme a sua relação com drogas, religião, escola, amigos e cada um dos pequenos elementos que compõe uma vida humana.
Alguns grupos de risco merecem atenção, como presença de alguém que morreu por suicídio na família, presença de transtornos psiquiátricos ou uso abusivo de álcool. Outras características transitórias e pessoais também são importantes, como desesperança e impulsividade, por exemplo. Mas a verdade é que sempre fica um pedaço da história sem qualquer explicação.
Em alguma medida, é preciso admitir que não podemos impedir todas as tragédias de acontecerem. Ao mesmo tempo, há o que fazer para tornar essas tragédias cada vez menos frequentes.
Em primeiro lugar, chegou a hora de falarmos do tema com os jovens. De maneira aberta e simples. A contaminação mais perigosa é a que ocorre por debaixo dos panos. A que acontece dos jovens entre si e pela internet. Está na hora de profissionais qualificados começarem a mediar esse debate. Não temos evidências de que falar sobre o assunto "dê a ideia". E ignorá-lo não tem se mostrado efetivo – afinal, o suicídio vem aumentando entre os jovens.
Essa conversa precisa ser franca e equilibrar dois polos opostos. De um lado, validar a experiência do jovem, pois sabemos que, pela sua própria constituição, o adolescente está sentindo em excesso. Além disso, convenhamos, a dor de perder o primeiro amor é muito maior do que a de perder o décimo. O sofrimento do jovem é real – por mais que a sua vida possa parecer ótima para quem está vendo de fora.
Ao mesmo tempo, é fundamental colocar esperança nessa conversa, e a perspectiva de que as coisas mudam. Que eles não estão presos ou sozinhos em seu sofrimento. Que, com as ferramentas certas, esse sofrimento pode ser vivido e superado. O suicídio não é uma boa solução para esses problemas – é uma solução definitiva para problemas transitórios.
O que o adolescente que pensa em se matar precisa – ou qualquer um nessa situação – é ver que ele não está sozinho em seu inferno, e que existe uma rota de fuga. É enxergar a mão dos pais, amigos e profissionais se estendendo para oferecer ajuda.
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