Gente que se acha: o estranho caso dos desinformados cheios de confiança
Na década de 1990, um assaltante entrou em um banco nos Estados Unidos mostrando o rosto e, sem hesitar, sorriu para todas as câmeras enquanto roubava a instituição. Algumas horas depois, ele se mostrou surpreso quando a polícia invadiu a sua casa para prendê-lo. Ele havia passado limão no rosto – e tinha ouvido falar que a fruta deixava a tinta invisível. Assim, não conseguia entender como a polícia o identificou tão facilmente.
Após diversos laudos de especialistas, o ladrão foi considerado uma pessoa de inteligência normal. Ele também não estava em nenhum tipo de surto psicótico. O único problema, segundo os especialistas, é que avaliou muito mal a sua própria capacidade.
Uma dupla de psicólogos americanos (Dunning e Kruger), começou a se perguntar se aquilo não poderia ser uma tendência mais universal do que um ladrão isolado no meio dos país. Será que quanto menos informação uma pessoa tem, mais provável é que ela vá superestimar o seu conhecimento?
Todos nós já nos aproximamos dessa ideia. Lembra daquele colega de sala, o Pedro, que mesmo depois de tirar nota vermelha nas três últimas provas de química saia confiante do exame final? "Estava fácil", parecia pensar enquanto caminhava pelo corredor. Confiante, conversava com amigos e não pestanejava quando via que boa parte das suas respostas não conferiam com as dos colegas. No dia que o professor entregava a prova, ele era pego completamente de surpresa pela nota baixa estampada na primeira folha. Para Pedro, a nota vermelha não fazia o menor sentido.
Mas o problema não é só dos Pedros da vida. Todos nós estamos sujeitos ao mesmo mecanismo. Por exemplo, e responda com sinceridade: você é um motorista melhor do que a média? E a sua inteligência, é acima da média? Se os leitores desse blog obedecem ao padrão do mundo, 80% de vocês responderam que são superiores à média. Uma impossibilidade estatística…
Os dois exemplos (Pedro e nossa autoavaliação enquanto motoristas) são facetas de um interessante fenômeno chamado de efeito Dunning-Kruger. Em outras palavras, a tendência das pessoas que dominam pouco um determinado assunto de superestimarem o seu próprio conhecimento. Seres humanos tem uma tendência de se colocar acima da média, especialmente quando não dominam profundamente um tema específico.
E o que é mais estranho ainda, grandes especialistas (e ótimos alunos), tem a tendência contrária. Lembra daquele colega que sempre saia preocupado das provas, mas se saia muito bem no final das contas? A preocupação dele é tão previsível, do ponto de vista da psicologia, quanto a autoconfiança indevida de Pedro. A dúvida, e não a certeza, é a marca da inteligência.
E assim caminha a humanidade: repleta de desinformados cheios de confiança e pessoas inteligentes que duvidam de si mesmas.
Da próxima vez que você topar com um guru, um canditato político ou quem for gritando, cheio de segurança, que o mundo é simples e que ele o entende, suspeite: essa é a marca da ignorância. Esse cara é só mais uma vítima do efeito Dunning-Kruger.
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