Eu começo na segunda: por que é tão difícil seguir uma dieta?
Quem sabe você já tenha começado uma dieta empolgado em uma segunda-feira qualquer, só para vê-la morrer antes do sábado. O mesmo vale para a academia: talvez tenha feito promessas de verão no momento da matrícula, mas a assiduidade dos primeiros meses logo se transformou em sedentarismo e culpa. E, antes mesmo do Ano-Novo, você se ouviu perguntando "por que, afinal, estou pagando uma academia?".
A explicação padrão é chapada: desistimos de dietas e da atividade física porque nos falta motivação. É difícil negar que a desmotivação se torna, de fato, um problema ao longo do caminho. Mas fico sempre com a sensação de que essa explicação não elucida nada, pois me parece um pouco circular. Desistimos, então, porque não estamos motivados e não nos sentimos motivados porque estamos sempre desistindo, entende?
As explicações se tornam circulares quando não paramos para pensar em seu significado. No caso: o que significa motivação e de onde ela vem? A definição comum é de que se trata de uma força interna. E, cá entre nós, isso também não diz nada. Daí que não conseguimos nem sequer entender o motivo para ela vacila tanto com o tempo.
No final das contas, a justificativa é pouco romântica: algumas motivações vacilam com o tempo porque são funções de operações temporais. Espera, juro que a ideia é mais simples do que parece.
Imagine que você acabou de beber uma garrafa inteira de água. Se eu lhe disser que só lhe darei mais um copo se você der dez pulinhos, você acha de verdade que se sentiria motivado para pular? Agora, imagine-se privado de água por três dias. O primeiro copo de água que lhe oferecem vem com essa condição. Aí, o que você faria? Encontraria, com certeza, motivação para os malditos pulinhos.
O que motiva a gente a pular é o tempo passado sem beber água — o valor que um copo d'água ganha para alguém verdadeiramente sedento (isto é, que foi privado de água por um bom tempo).
Algo similar acontece com dietas. O valor da comida muda quando estamos no sexto dia à base de salada com frango grelhado. A medida em que a fome cresce, a balança começa a pender para o lado da comida, fazendo com que os comportamentos que nos manteriam naquele programa alimentar se tornem cada vez mais vacilantes.
O valor de um hambúrguer com batata frita é completamente diferente quando estamos na lanchonete e quando analismos nossa barriguinha no espelho. Nos sentimos motivados a comer pra valer quando a fritura está bem na nossa frente e motivados a fazer dieta diante do espelho. Do mesmo modo, nos sentimos motivados para emagrecer quando notamos que o verão está chegando, assim como nos sentimos motivados a desencanar quando o verão já chegou e a barriga não desapareceu ou nem fez tanto mal assim.
A barriga e proximidade do espelho de alguma forma tornam o comportamento de comer em excesso aversivo. Ou seja, damos menos valor para a comida quando ela está atrelada a uma gordurinha indesejada.
Se, por acaso, percebemos que a motivação para sair de uma dieta pode aumentar com a exposição à comida e com a passagem de um tempo sem comer, vamos precisar arrumar nossa vida para produzir uma motivação contrária.
Alguém com problemas de saúde, por exemplo, pode colocar o resultado do exame de colesterol como pano de fundo do alarme do celular. De repente, quando o aviso do horário de ir para academia soar, essa pessoa terá uma motivação a mais para colocar os tênis e ir para a ginástica. O ideal seria que, um dia, esse controle pelo medo fosse substituído por um gosto pelo esporte. Infelizmente, essa troca nem sempre é possível.
E até esse momento, talvez a gente tenha que se motivar do jeito que der. Sabendo que, naturalmente, motivação vai e vem.
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