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Blog do Dan Josua

Um guia para as emoções: medo, raiva, tristeza e alegria

Dan Josua

26/07/2018 04h00

Crédito: iStock

Somos seres emocionais que aprenderam a falar. Sentimentos são parte de quem somos, tão inevitáveis quanto o amanhecer. As emoções foram selecionadas em nossa história evolutiva e tem, cada uma delas, uma função típica e situações paradigmáticas que as evocam.

Conhecer essas emoções é o primeiro passo para aprender a lidar com elas da melhor maneira possível. 

Abaixo, um pequeno guia:

MEDO

Talvez seja a mais primitiva das emoções. Pode nos congelar, nos impelir a fugir e, em casos extremos, nos preparar para nos defendermos. Tipicamente, quando sentimos medo, nosso sangue sai das nossas mãos e estômago e vai para as nossas pernas. Nossa musculatura fica rígida, nosso coração acelera e nossa respiração fica curta (puxamos mais ar do que soltamos). 

Sua função é clara: o que chamamos de medo é uma série de respostas fisiológicas que nosso corpo produz para nos ajudar a fugir de uma ameaça. Sentir medo e fugir aumenta as nossas chances de sobreviver em um mundo que já foi mais perigoso do que é hoje – um mundo onde, detrás de qualquer moita poderia haver um predador. Ou seja, sentimos medo frente a alguma ameaça ou algum sinal de que alguma ameaça pode vir. 

Quando estamos com medo, nosso pensamento em geral se torna catastrófico, nos preparando para o pior cenário possível. Após sentirmos medo, em situações semelhantes, tendemos a ficar "hiper-vigilantes", procurando por sinais de perigo (e desatentos às outras coisas).

RAIVA

Se sentimos medo quando alguma ameaça se dirigi a nós, tipicamente, sentimos raiva quando algo ameaça uma pessoa ou coisa importante para nós. A mãe que se vê encurralada por um urso na floresta, provavelmente só sente medo. A mesma mãe, quando vê seu bebê sendo atacado, além do medo, sente muita raiva do urso. A raiva nos prepara para o ataque, para proteger o que é importante para nós. Algo que, provavelmente, foi fundamental para a sobrevivência de uma espécie que tem filhotes tão frágeis quanto os bebês dos seres humanos.

Podemos sentir raiva quando temos uma meta importante bloqueada – e raiva também pode ser um efeito colateral comum de frustração.

Quando sentimos raiva tendemos a fechar os punhos e apertar os dentes. Comportamentos agressivos, onde visamos machucar o próximo, se tornam mais prováveis e trazem mais satisfação. 

ALEGRIA

Infelizmente, a psicologia ainda pesquisa pouco sobre as emoções que gostamos de sentir. Temos tantas emoções prazerosas, agrupadas sobre esse guarda-chuva de felicidade, quanto temos emoções que não gostamos de sentir. 

Amor, felicidade, empolgação, hedonia e tantos outras sensações prazerosas que temos dificuldade em distingui-las. Como com as outras emoções, a alegria estreita a nossa atenção para eventos congruentes com o sentimento. Eventos alegres, por assim dizer, chamam eventos alegres. Ou seja, podemos fazer um ciclo virtuoso quando nos colocamos em situações que trazem prazer. 

TRISTEZA

Uma das emoções mais difíceis de entender talvez seja a tristeza. Qual a utilidade dessas lágrimas e dessa falta de energia? Como isso pode ter sido importante em nossa história evolutiva?

Os pesquisadores se dividem entre duas explicações. De um lado, a tristeza pode ser uma maneira de economizar energia, poupar recursos quando o mundo não está favorável. Pelo outro, a tristeza, nossos lábios para baixo e as marcas de lágrimas em nossas bochechas, tem um importante poder comunicativo. Gosto de pensar que, quando na medida, a tristeza é uma cola social, uma maneira de sermos escutados e cuidados. 

Imaginem uma criança chorando na sua frente e pare para pensar: qual é a sua postura típica em relação a ela? Em geral, frente a alguém sofrendo, temos o impulso de cuidar, de nos aproximar. Curiosamente, nos sentimos muito mais próximos de alguém que demonstra fragilidade e tristeza do que de alguém "hiper-potente" que demonstra não sofrer.

Quando estamos tristes, nos sentimos cansados e sem energia. Às vezes, ficamos com a sensação de que nada mais vai ser prazeroso e de que as coisas vão ser desanimadoras para sempre. Temos dificuldade de lembrar de momentos felizes e tendemos a ruminar em um passado de arrependimentos.

CONCLUSÃO

As emoções, para o bem e para o mal, são inevitáveis. Conhecê-las é o primeiro passo para a pergunta fundamental: nesse momento, eu devo agir em consonância com a emoção? Ou o meu mundo já é tão diferente daquele dos meus ancestrais que me deixaram essas emoções que eu preciso treinar agir na contramão delas?

Sobre o autor

Dan Josua é psicólogo, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Fez especialização em Terapia Comportamental e Cognitiva pela USP (Universidade de São Paulo) e tem formação em Terapia Comportamental Dialética pelo Behavioral Tech / The Linehan Institute, nos Estados Unidos. Atua como pesquisador e professor no Paradigma - Centro de Ciências e Tecnologia do Comportamento e dá cursos pelo Brasil afora ajudando a difundir a DBT pelo país.

Sobre o blog

É muita loucura por aí. Trânsito, mudanças climáticas, tensões em relacionamentos, violência urbana, maratona de séries intermináveis, spoilers em todos os cantos, obrigação de parecer feliz nas mídias sociais, emoções à flor da pele. O blog foi criado para ser um refúgio de tudo isso. Um momento de calma para você ver como a ciência do comportamento humano pode lhe ajudar a navegar no meio de tanta bagunça.

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