Um cassetete chamado psicologia? Entenda por que violência não educa
O candidato à presidência Jair Bolsonaro, em entrevista à revista Playboy em 2011, afirmou que não acreditava em psicologia. Que psicologia, para ele, era o nome do cacetete que usava para assustar algum cadete que ameaçasse qualquer tipo de insubordinação.
Não, não se preocupe, caro leitor, esse não é um texto para falar mal (nem bem) do Bolsonaro. Vou ficar tranquilo aqui em cima do muro, porque há muito já desisti de mudar a opinião política das pessoas. Minha prosa está bem distante disso.
Agora, não dá para deixar passar em branco o que Jair Bolsonaro falou da minha profissão. A psicologia é uma ciência, com evidência de eficácia para uma série de transtornos psiquiátricos — e que oferece suporte para tantas outras pessoas que sofrem sem receber um diagnóstico.
No entanto, mais importante ainda nesse contexto, é lembrar que a psicologia tem uma série de experimentos e pesquisas mostrando que ensinar pela porrada é uma péssima ideia.
Entre outras coisas, ensinar desse jeito aumenta comportamentos repetitivos e esteriotipados. Crianças que apanharam na infância têm riscos significativamente maiores de, uma vez adultas, desenvolverem transtornos psiquiátricos e de se envolverem com crimes, especialmente os violentos.
É óbvio, mas vale a pena deixar claro: violência não é remédio para a violência. Um sistema carcerário violento produz mais bandidose reforma menos cidadãos.
Basta imaginar um cachorro na sua casa, onde o seu bebê de 1 ano e meio fica andando pelo chão. Com qual cachorro você se sentiria mais seguro? Com um que aprendeu com recompensas e carinho a se comportar ou com um que aprendeu a ficar quieto na base da porrada?
Da minha filha, eu quero distância de cachorros que aprenderam a se comportar com correções violentas. Eles são bombas-relógios esperando o momento de atacar de volta.
E se eu não quero um cachorro assim na minha casa, quero menos ainda minha filha se sentindo desse jeito – ou policiais tensos ao zelar pela segurança da minha cidade. Não quero ninguém que aprendeu a proteger sendo acuado e ameaçado. Esse policial, possivelmente, continua se sentindo agredido e está esperando o momento de agredir de volta.
No final, político a gente escolhe, mas resultados de pesquisas em ciência não. Ou seja, não é uma questão de predileção: ensinar pela porrada não é uma boa estratégia. É isso o que a psicologia, enquanto ciência, recomendaria.
Violência, pasmem, gera mais violência.
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