Um exercício para "tirar uma foto" da mente tagarela e tentar acalmá-la

Crédito: iStock
A nossa mente está constantemente narrando o mundo à nossa volta. Mal reparamos que fazemos isso, mas o processo de dar nome para as coisas é quase que incessante. Não acredita? Pois eu lhe faço um desafio: na próxima vez em que for pagar algo com cartão, tecle sua senha sem pensar nos números que você está digitando. Viu? Mais difícil do que parecia…
No entanto, mesmo que a gente passe o dia todo ouvindo esse narrador interno, raras vezes paramos para observar de fato o funcionamento dele. Falamos e falamos do poder da mente humana, mas raramente nos debruçamos para ouvir de verdade a nossa própria cabeça. E, quando eu falo em escutar o nosso mundo interno, quero dizer isso mesmo: observar, mas sem entrar no debate que se repete infinitas vezes nas nossas sinapses.
O exercício a seguir ajuda a gente a perceber essa voz interna em plena atuação para conhecê-la melhor. O poder de ver e registrar nossa mente funcionando é muito maior do que simplesmente ouvir falar sobre essas coisas. Por isso, eu lhe chamo para dar uma chance e ir buscar um papel e uma caneta (vá mesmo, que eu espero!)
Pronto, papel e caneta nas mãos, podemos começar.
No topo da página, escreva o tema e a direção na qual você gostaria que a sua cabeça fosse. Por exemplo, "problemas no trabalho" ou "preguiça de estudar". Escolhida a direção geral, deixe a sua mente fluir e, a cada vez que um pensamento ficar claro o suficiente para você conseguir registrá-lo, escreva-o no papel. Não se preocupe com gramática nem com lógica, simplesmente anote. Faça isso por um minuto (inteiro, cronometrado).
Veja se o meu exemplo, logo abaixo, ajuda a deixar mais claro esse exercício. Decidi pensar sobre a ideia de escrever para o UOL. O que passou então pela minha cabeça:
Não sei o que escrever. Por que você simplesmente não senta e faz o que pensou em fazer? Eu tô cansado. Mas também que desculpa é essa? Porque você tem energia para fazer isso… Enfim, nem sei se vou conseguir fazer direito. Mas você só pode fazer o que você pode fazer. Mas… e se ninguém gostar do que eu tenho para falar? E se o que eu disser não ajudar?
Você provavelmente sentiu o quão repetitivo e circular é esse processo. Um toma-lá-dá-cá imortalizado no desenho animado por um anjinho e um demoninho no ombro do Pica-Pau. Observe agora o seu próprio processo. Quão repetitivo é ele? Quantas horas você talvez tenha passado se entretendo com esses pensamentos que mal ocupam um parágrafo?
Esse é o movimento da cabeça humana quando está ociosa –resolver problemas que não têm lá muita solução.
Ótimo, vamos agora para o segundo round. Olhe para as palavras que você registrou no papel e imagine que é a sua tarefa descobrir se elas descrevem bem a realidade ou não.
De novo, fazer isso é mais difícil do que parece, não é? Repare se essa proposta de racionalidade fez você mergulhar ainda mais nesses pensamentos. Procuramos por argumentos racionais para nos acalmar, mas com frequência o tiro sai pela culatra e só damos mais corda para o nosso debate interno. Sim, muitas vezes esse processo de aprofundamento racional pode ser importante, mas em tantas outras ele é cansativo e infrutífero. Com frequência, ao tentar provar qual lado da discussão está certo, nos afundamos ainda mais na lama da nossa vida mental hipertrofiada.
Terceiro round?
Prometo que é o último. Releia as suas anotações. Agora feche os olhos e imagine que duas crianças de 10 anos estão discutindo usando os seus argumentos. E você é apenas um adulto, observando crianças debatendo. Lembre-se de ficar dois minutos inteiros nessa etapa final do exercício.
Nesse cenário, quão importante parecem esses argumentos? E agora note: quanto eles precisam comandar sua vida?
Muitas vezes, quando conseguimos dar um passo para trás e ver nossos pensamentos de fora –como um adulto observando crianças –, uma paz nos invade. Percebemos que não há nada para ser resolvido em nossa imaginação –é possível voltar a viver a vida. E, quiçá, aproveitá-la.
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