Como fazer para as pessoas gostarem de mim? Segredo está em saber escutar
Todo ano o Google apresenta os principais trends, ou tendências, de buscas no país e no mundo. Assim, é possível saber quais os temas geraram mais dúvidas nas cabeças (ou pelo menos nos teclados) dos brasileiros em 2019. No meio de uma série de perguntas esperadas sobre a Copa América ou sobre por que não comer carne na Sexta-Feira Santa, uma delas chamou a minha atenção: na categoria "como", a terceira indagação mais feita ao longo de 2019 foi "como fazer para as pessoas gostarem de mim".
Sentir-se isolado parece ser um tema corrente nos últimos anos. Tanto que o Reino Unido criou um ministério só para cuidar da solidão. Já uma pesquisa com 2 mil americanos deixa claro que 40% dos adultos nos Estados Unidos sentem que não conseguem fazer novos amigos —e a resposta mais comum para "quantos confidentes próximos você tem" foi apenas um. Nesse contexto, talvez o levantamento do Google esteja mostrando que os brasileiros passam por um dilema comum ao mundo ocidental: não sabemos mais como nos aproximar uns dos outros.
O bode expiatório para esse problema costuma ser as redes sociais, mas eu sinceramente já estou cansado de culpá-las por tudo. Talvez, mais do que ser a causa da doença, as redes sociais sejam o remédio errado em que acabamos nos viciando. Sendo assim, o importante é encontrar a medicação correta que, obviamente, está na interação pessoal.
A questão é que interagir pessoalmente é um tanto mais difícil do que uma lista de receitas pode fazer parecer. Quando dou aula sobre treino de habilidades sociais, uso um quadrinho que ilustra bem essa dificuldade. Na parte de cima estão as dicas típicas: sorria, faça contato visual, demonstre abertura física, mostre um pequeno defeito etc. O personagem desenhado, no entanto, faz versões desajeitadas dessas mesmas dicas, ou seja, dá aquele sorriso amarelo e tenso de alguém que não está se sentindo à vontade; encara em vez de olhar, invadindo o espaço da outra pessoa e assim por diante.
Essa figura aponta, o primeiro grande obstáculo das interações sociais: não basta acertar em O QUE fazer, é preciso maestria no COMO. O segundo dificultador é que se faz necessário um ambiente generoso para testar nossas habilidades sociais. É fundamental encontrar refúgios seguros onde nossas emoções não façam com que enfiemos os pés pelas mãos.
Dito tudo isso, há um início de receita —o ponto comum comparando todos os manuais de habilidades sociais com que já me deparei. E é o seguinte: aprenda a escutar. Frequentemente, nos perdemos porque ficamos tão preocupados com o que a outra pessoa está pensando daquilo sobre o que acabamos de falar que esquecemos de levar em conta o que nos foi dito. A verdade é que as pessoas costumam ter mais interesse em suas próprias vidas e gostos do que em qualquer outra coisa. Por isso, é possível que essa seja uma parte importante do combustível que faz tantos consultórios de psicólogos lotados. Bons terapeutas são, acima de tudo, excelentes ouvintes.
O que nem todo mundo percebe, porém, é que escutar pode ser extremamente complicado. Não basta olhar para o vazio e repetir um "aham" de vez em quando. Para escutar de verdade, é preciso saber repetir o que a outra pessoa disse, fazer perguntas relevantes e validar o ponto de vista alheio. Conselhos e sugestões até podem surgir, mas com a mesma parcimônia com que temperamos uma comida com pimenta malagueta — ora, ela pode melhorar o prato, mas basta um pouco a mais e a receita vai por água abaixo.
É óbvio que ouvir é apenas o primeiro passo. Que precisa ser seguido em conversas muito mais horizontais, nas quais ambas as partes sejam contempladas na mesma medida. Ainda assim, acredito profundamente, esse é um ótimo primeiro passo. Deixa o caminho a seguir muito mais fácil.
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