Com quem você gostaria de passar o ano que começou?
Se você pudesse escolher, com quem você ficaria uma hora conversando? Para a maior parte dos jovens, a resposta costuma ser elaborada: gente famosa e grandes ídolos, o cara ou a menina popular do colégio que é praticamente inacessível. No entanto, pessoas mais velhas, especialmente os superidosos (aqueles com mais de 80 anos), tipicamente respondem a essa pergunta de forma bastante diferente. Quem passou mais viradas de anos na Terra costuma declarar de maneira direta: prefere ficar com familiares e amigos muito próximos.
Ao perceber essa diferença no modo de responder à mesma pergunta, psicólogos e sociólogos inicialmente pensaram que a distinção se devia à experiência que os mais velhos adquiriram. Passar tantos anos por aqui faz com que sejamos mais sensíveis ao que de fato é importante na vida: aqueles que amamos.
Alguns cientistas, no entanto, não se sentiram confiantes com essa explicação e continuaram com as investigações. Fizeram a mesma pergunta para jovens com doenças terminais e compararam suas respostas com a de idosos e a de jovens saudáveis. Em outra pesquisa, pediram aos mais novos que imaginassem que estavam enfrentando alguma enfermidade fatal e aos mais velhos que pensassem em uma pílula mágica capaz de curá-los de todas as suas dores e moléstias.
Com essas interferências, um padrão se tornou claro. Jovens com doenças terminais, assim como quem simplesmente foi convidado a imaginar a sua própria morte, davam mais valor para as pessoas próximas, decidindo que gostariam de ficar a hora seguinte com seus amigos íntimos e familiares. No entanto, sentindo-se magicamente curados, aqueles sujeitos mais velhos e mais experientes começaram a valorizar pessoas mais distantes.
A resposta àquela pergunta sobre quem você escolheria para conversar, no final das contas, não tem relação alguma com a experiência que adquirimos vivendo, mas com uma intuição que ganhamos quando nos deparamos com a nossa morte. Viver não nos aproxima das pessoas à nossa volta. Deparar-se com a morte faz isso.
Qual aprendizado deveríamos tirar dessa conclusão? Será que deveríamos viver pensando na morte? Ou inverter a intuição inicial e acreditar que não são os idosos e os enfermos que sabem responder melhor a essa questão, mas o resto de nós? Ou, simplesmente, devemos aceitar a nossa condição atual e valorizar apenas aquilo a que o nosso contexto presente empresta prestígio?
Não acho que alguém sabe de fato como responder esses questionamentos. Não acredito em gurus que vendem respostas prontas a todos os seres humanos como se pertencêssemos à mesma caixinha. Posso dizer que a ciência conhece a importância de amigos próximos para a nossa saúde física e emocional, mas não posso afirmar com segurança o que isso deveria significar na sua vida.
Portanto, para este início de ano, talvez o mais importante seja retomar a pergunta e decidir, conscientemente, em qual contexto gostaríamos de respondê-la. Em outras palavras, pergunte-se: com quem gostaria de passar o ano que vai começar? Então, se dê alguns momentos para de fato imaginar os rostos a sua volta e notar as emoções que eles trazem.
Enquanto imagina, lembre-se de colocar em evidência o lugar de onde você quer responder a essa questão, isto é, como alguém que vai viver para sempre (como os jovens acreditam) ou como alguém que está destinado a morrer (como os idosos sabem). Ver em qual lado dessa dicotomia você se encaixa pode ser o passo inicial para saber de fato o que é importante para você.
Eu garanto que o exercício me traz algumas obviedades à mente. Posso passar menos tempo neurótico com os 2 quilos que engordei em 2019, por exemplo. Com certeza, posso passar menos tempo planejando um futuro idealizado e mais tempo agradecendo uma coisa simples: esse ano que passou. E pulam ondas comigo pessoas que quero ao meu lado no dia em que irei morrer.
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